Testemunho da Isabel Marantes
Uns dias antes da Páscoa, uma amiga enviou-me uma mensagem que dizia: “Estou tão feliz… andei à procura, à procura e finalmente encontrei uma igreja onde, através de uma janela, se consegue ver o sacrário! Tens de ir lá!”
Que mensagem poderosa esta, tal como foi poderosa a foto que o João e a Sónia Santos partilharam aqui no site, com a sua família ajoelhada à porta da uma igreja (fechada).
Também nós experimentamos cá em casa esta sede, este desejo, em frente das portas fechadas das nossas igrejas.
Assim, no dia em que recebi a mensagem lá fomos nós também à procura e, como mendigos da Luz, ficámos do lado de fora da tal janela a rezar e a cantar, a ver a luz da lamparina acesa e a contemplar a verdadeira Luz escondida no sacrário.
Estar ali não saciou completamente a sede, mas ao menos estivemos mais perto da Luz! Cantámos exactamente uma canção sobre a Luz, que é Jesus, e como queremos que essa Luz sempre nos guie.
A canção chama-se “Lead kindly light” (versão de Audrey Aussad). É uma adaptação de um poema que o agora Santo Henry Newman compôs e a letra parece-me adequada aos tempos que agora vivemos.
A canção começa assim:
Lead, kindly light, amidst the grey and gloom
The night is long and I am far from home
Here in the dark, I do not ask to see
the path ahead – one step enough for me
Lead on, lead on, kindly light.
(Conduz-me, amável Luz, entre o nevoeiro e a escuridão
A noite é longa e eu estou longe de casa
Aqui no escuro, eu não peço para ver
todo o caminho – o próximo passo é suficiente para mim
Conduz-me, conduz-me, amável Luz.)
Sinto que estes tempos sem termos acesso aos sacramentos, nomeadamente à Eucaristia, “fonte e cume de toda a vida cristã” (CIC 1324), são de alguma forma tempos de escuridão… porque nos falta o acesso à Luz da presença real de Cristo na Eucaristia.
Mas penso que se calhar a luz já se vinha a apagar há algum tempo, sem que nós fizéssemos o suficiente para a manter acesa. Assim o mostrou um extenso estudo feito o ano passado nos Estados Unidos sobre o conhecimento da população americana sobre religião (https://www.pewresearch.org/fact-tank/2019/08/05/transubstantiation-eucharist-u-s-catholics/). Neste estudo apenas 31% dos Católicos afirmaram acreditar na transubstanciação. Os restantes 69% acreditam que o pão e o vinho utilizados na Eucaristia são apenas símbolos e nunca realmente se transformam no corpo e sangue de Cristo. Mas o interessante é que cerca de dois terços destes 69% pensa que a Igreja Católica ensina exactamente isto, que o pão e o vinho são apenas símbolos.
Se pensarmos assim, entendo que seja fácil não sentir falta de uma mera “cerimónia simbólica” … Mas a verdade é que sentimos muita falta, não é?…
Percebo a dificuldade de compreensão desta realidade (assim como de outras realidades da nossa Fé), mas é difícil acreditar que uma percentagem tão significativa de católicos não saiba que no sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo; está presente nela de modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho” (CIC 1374).
Jesus quis tanto que esta realidade ficasse clara na mente dos seus discípulos, que não hesitou em arriscar perdê-los a todos ao afirmar com palavras “duras e difíceis de ouvir” a verdade sobre este tema:
Na verdade, na verdade vos digo que se não comeres a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis a Vida em vós. (João 6:53)
Jesus bem sabia que com a sua presença real na Eucaristia nos deixaria a melhor prova do Seu Amor ao longo dos séculos.
Como escreveu a Santa Madre Teresa de Calcutá:
“Quando olhamos para o crucifixo entendemos o quanto Jesus nos amou. Quando olhamos para a Hóstia Sagrada, entendemos o quanto Jesus nos ama agora”.
Assim, penso que não só é necessário reacender a Luz da Eucaristia o mais rapidamente possível, mas também é urgente torná-la uma verdadeira chama, dar-lhe mais intensidade, colocá-la no centro, para que dela brote o irresistível brilho da Verdade.
Enquanto esperamos, ficamos mendigos da Tua Luz, Jesus, sem a qual não podemos ver nem viver plenamente…