Testemunhos


Triste-mente

Testemunho da família Miranda Santos

Quarta-feira Santa, o dia lá fora está chuvoso. Uma boa oportunidade para um tempo em família que é raro fazermos: ver um filme. A primeira opção recai sobre a mini-série “A Bíblia” para ver os episódios da paixão de Jesus. Mas após tentar encontrar essa opção tão ortodoxa de filme on demand sem sucesso, acabamos por percorrer rapidamente a lista disponível para aluguer na box e o que saltou à vista foi “Divertida-mente”, que já havia curiosidade de ver há algum tempo. Bom, talvez não fosse a melhor opção para a Semana Santa, mas pelo menos garantiria um bom momento familiar para todas as idades.


O filme revelou-se muito simples e acessível para as crianças e, ao mesmo tempo, muito interessante na forma como representa a luta de emoções que tantas vezes sentimos no nosso interior, e a forma como está ao nosso alcance, perante o mesmo estímulo externo, reagir de diferentes maneiras, bastando optar por nos focarmos num determinado ponto de vista ou intenção.
Mas ainda mais interessante do que isso é a evolução ao longo de todo o filme do lugar da tristeza e da alegria. A alegria quer assumir a liderança dos sentimentos desde o início controlando todas as intervenções dos restantes, particularmente da tristeza. Tenta inclusivamente encostá-la a um canto para que não tenha qualquer influência nas emoções da personagem principal. Mas a tristeza vai-se revelando, na sua discrição e humildade, como detentora várias vezes da razão, da sensatez e do conhecimento.

E com o desenrolar dos acontecimentos e as dificuldades que vão surgindo, a alegria vai-se sentindo cada vez mais impotente para ajudar a salvar a personagem principal e começa a aperceber-se de como a tristeza pode ser essencial para o retomar da vida. Por fim, acaba por colocar nas mãos da tristeza toda a vida da personagem para que, abraçada pela tristeza, possa recuperar o sentido das vivências passadas e seja capaz de abrir-se à vida nova.


Jesus explica-nos isto ao anunciar a Sua ida para o Pai:

Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! (Jo 16,20b)


É assim que Jesus anuncia a tristeza da Sua Paixão, em primeiro lugar, mas com a garantia de ser seguida imediatamente pela Alegria da Sua Ressurreição. E, mais do que uma sequência de alegria após tristeza, fala de uma conversão da própria tristeza na alegria, tornando claro que a tristeza é necessária e é a base donde surge a alegria. E esta alegria não é uma alegria qualquer, é uma alegria irreversível:

Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. (Jo 16,22b)


Jesus fala da alegria dos discípulos ao encontrarem-nO de novo após a Sua ressurreição, mas fala também certamente da nossa Alegria quando o encontrarmos na vida eterna.

Quantas vezes ouço pais dizerem: “eu só quero que o meu filho seja feliz”, ou “eu faço tudo pela felicidade dos meus filhos”. Certamente que não estão a falar desta Alegria que Jesus fala. Porque se estivessem, não protegeriam os filhos das mais variadas tristezas que podemos ter nesta vida e que nos convertem para a vida eterna. Claro que nós queremos que os nossos filhos sejam felizes, mas não é esse o foco principal das suas vidas. O que nós queremos antes de tudo é que os nossos filhos sejam Santos. Quanto muito, a felicidade poderá vir como consequência, talvez ainda uma amostra dela aqui na terra, mas só será completa no Céu.


Bem, afinal o filme escolhido ao acaso podia muito bem ser para a Semana Santa. O filme que na verdade poderia chamar-se antes “Triste-mente”, porque mostra com muita piada, a miúdos e graúdos, que é através da tristeza, tristemente, que a Páscoa surge para nos conduzir à alegria completa e irreversível!

3 Comments

  1. Adorei esta partilha!

  2. Pilar Pereira

    Faço minhas as palavras da Olívia!

  3. Tão bom. Obrigada

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