“E Moisés levou consigo os ossos de José, porque este havia feito os filhos de Israel jurarem, dizendo:
Deus certamente vos visitará; e então levareis daqui os meus ossos convosco.” (Êxodo 13, 19)“Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que
tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os
espíritos malignos.” (At 19, 11-12)
A peregrinação jubilar
O Jubileu é o tempo favorável às peregrinações, e certamente já todos fizemos várias este ano.
Peregrinamos, porque queremos rezar mais intensamente, ou conhecer as maravilhas naturais, artísticas e
espirituais que o Senhor nos oferece. Mas peregrinamos, acima de tudo, porque a peregrinação é o símbolo
mais poderoso da nossa vida aqui sobre a Terra, rumo ao Céu.
As relíquias dos santos
Hoje é dia de Todos os Santos, todos aqueles que já concluíram a sua peregrinação rumo ao Céu – de José do
Egito a Paulo de Tarso, de Teresa de Ávila a Carlo Acutis. Celebremos as suas vidas ao longo de todo este
mês! Contemos as suas histórias à volta da mesa de jantar, meditemos nas suas palavras e nas suas vidas.
O povo bíblico aprendeu desde cedo a venerar as relíquias dos santos, acreditando que, por elas, Deus
transmitia a sua graça e a sua bênção. José fecha o Livro do Génesis com o pedido a seus irmãos para, no dia
em que regressarem a Canaã, levarem também os seus ossos. O assunto foi tomado a sério, e os livros
sagrados seguintes vão atualizando a informação, assegurando-nos de que o povo que José ajudou a salvar,
não esqueceu os ossos do patriarca. Na Nova Aliança, bastava tocar no manto de Jesus e, depois, de Pedro e
de Paulo, para os milagres acontecerem. E ao longo da História da Igreja, as relíquias dos santos, desde os
seus ossos, aos pedaços da sua roupa, foram objeto de veneração e canal de graças. A nossa fé assegura-nos
que, um dia, no final da nossa peregrinação, todos ressuscitaremos no nosso próprio corpo, pelo que a
sepultura não tem a última palavra acerca dos nossos ossos e de tudo o que diz respeito à nossa vida terrena.
As relíquias da vida quotidiana
Quando falamos em santos, no entanto, não nos referimos apenas aos patriarcas bíblicos ou aos santos
canonizados, que são como que a ponta de um enorme icebergue, mas a todos os santos, isto é, os habitantes
do Céu. E de certeza que nas nossas famílias há muitos santos. São também as suas histórias que queremos
contar, a sua herança que queremos honrar neste mês. Conhecemo-las o suficiente?
E que relíquias temos de todos estes santos? Se um pedaço de tecido de uma camisa de qualquer santo
canonizado, pode ser venerado como uma relíquia; se as casas onde viveram santos, podem ser visitadas
como lugares sagrados, olhemos em volta: quantos objetos nas nossas casas nos falarão da santidade dos
nossos antepassados? Quantos milagres divinos e singelos terão acontecido aqui mesmo, onde agora
vivemos? Quantas histórias ficaram por contar, e com que surpresa as escutaremos no Céu?
Quando a minha avó morreu, uma das minhas irmãs disse que gostaria de ficar com uma chávena de esmalte
pintada de verde desbotado: era a chávena que a avó usava para medir o arroz. A avó passava horas e horas a
cozinhar para nós, sempre que íamos para sua casa de férias, e nunca parecia cansada ou frustrada com tanto
trabalho. Pelo contrário, ainda arranjava tempo para nos ensinar a cozinhar, e foi com aquela chávena que
também nós aprendemos a fazer arroz. Os anos passaram, e eu dou comigo muitas vezes a pensar na minha
avó, enquanto cozinho. Como é que ela conseguia cozinhar tanto sem perder a boa disposição, penso. As
minhas recordações tornam-se oração, pedindo a Deus perdão por não ter talvez valorizado suficientemente
o trabalho da minha avó; e agradecendo pelo seu testemunho de santidade, construído ali na cozinha, por
entre crianças e panelas – e uma chávena para medir o arroz.
E nós, que relíquias iremos deixar aos nossos descendentes? Se os nossos filhos herdarem as nossas panelas,
as nossas colchas, os nossos livros, a nossa casa, a chávena com que medimos o arroz – será que estão a
herdar relíquias de santos? De facto, a nossa peregrinação rumo ao Céu não se faz de êxtases nem de
sentimentalismos, mas daqueles detalhes do dia-a-dia que geralmente não valorizamos: o serviço humilde
dentro de casa, o trabalho invisível e pouco reconhecido, o cuidado contínuo com o bem-estar dos outros,
um sorriso, uma palavra dita e outra calada, aquela milha extra percorrida, aquela capa oferecida, aquela
ofensa perdoada. É por isso que a colher de pau com que cozinhamos, o computador onde trabalhamos, o
aspirador com que limpamos a casa, podem vir a ser autênticas relíquias de santos.
Compromisso
Neste mês em que refletimos particularmente nos mistérios do Céu e na vida dos santos, estejamos atentos
aos detalhes da vida que desprezamos como cansativos ou pouco recompensadores, mas que podem ser o
segredo da nossa santificação. Que objetos associamos a estes momentos? O computador, a colher de pau, as
molas da roupa, o carro transformado em “uber”, o avental, o ferro de passar, o martelo, o berbequim, os
manuais de estudo, um pedaço de giz…? Da próxima vez que lhes pegarmos, desafiemo-nos a olhar para
eles como relíquias de santos em formação – nós mesmos. Sim, somos chamados a ser santos, e não nos
falta nada do necessário para concluir a grande tarefa. A nossa peregrinação vai a bom ritmo… Ámen!

Ouvi, em tempos há muito idos, que um elogio pode estragar uma obra de arte ou de conversão. Entendi a ideia, que aqui não vou desenvolver, mas claro está que continuo a elogiar quando me parece que devo.
Este texto, como muitos dos outros que escreveste e partilhaste ao longo dos anos, são relíquias de santidade. Acredito que não serei a única a pensar isto.
Um Santo e Feliz Dia de Todos os Santos!
São urgentes os profetas do tempo actual que nos ajudam a ler a vida com olhos claros, iluminados pela Luz e Sabedoria Eternas….
Continuem a fazê – lo, Família Power, com a alegria e disponibilidade santificantes, que bem precisamos!
Bem hajam.