Em Caná da Galileia...


O Plano Bíblico por excelência

“Mãe, nós lemos a Bíblia ou o missal? Não percebo bem a diferença. Podes explicar? É que nunca sei que palavra usar quando na catequese ou na aula de Moral quero explicar como fazemos a nossa oração!” O David estava confuso, e eu dei-me conta de que é preciso explicar e voltar a explicar, repetir e voltar a repetir os conceitos da nossa fé que nos parecem mais do que adquiridos. É que o que eu me lembro de explicar aos mais velhos, provavelmente nunca expliquei aos mais novos…

Aproveitando a explicação que dei ao David, decidi escrever este post.

Hoje fala-se muito em “planos bíblicos”, como formas de facilitar a leitura integral da Bíblia. Há variadíssimos planos, uns que começam pela leitura dos Evangelhos, outros das Cartas de S. João, outros do Livro de Salmos ou do Cântico dos Cânticos. Há planos católicos e planos pentecostais, evangélicos ou ortodoxos. Há para todos os gostos. Conheço várias Famílias de Caná que já seguiram um ou outro plano e que, assim, conseguiram ler a Bíblia integral durante um ano.

Mas há um “plano bíblico” por excelência. É o único que eu sigo, e através dele – sem nunca ter feito nenhum curso bíblico – já pude ler a Bíblia inteira, compreendendo o suficiente para conseguir entrar em diálogo com o Senhor. Este “plano bíblico” chama-se missal. Nós temo-lo em papel, mas também pode ser consultado digitalmente, e aqui mesmo no site, em Litugia Diária.

O missal é formado pelas leituras bíblicas da missa diária. Estas leituras, à semana, são três, e ao domingo são quatro. Incluem sempre um salmo, que é a nossa resposta cantada à Palavra do Senhor.

Os domingos do ano litúrgico estão divididos em três anos. Em cada ano lê-se sequencialmente um Evangelho – Mateus, Marcos e Lucas – e, nas solenidades e nos tempos especiais, lê-se o Evangelho de João. Em cada ano, lêem-se também sequencialmente as Cartas de S. Paulo ou dos outros apóstolos, ou ainda o Apocalipse; e já não sequencialmente, mas cuidadosamente selecionado, um texto do Antigo Testamento, que o Evangelho ilumina. No Tempo Pascal, em vez do Antigo Testamento lê-se, sequencialmente, o Livro dos Atos dos Apóstolos. Nos tempos litúrgicos do Advento, Natal, Quaresma e Páscoa, todas as leituras, seja à semana, seja ao domingo, são selecionadas, e não sequenciais.

À semana, o ano litúrgico divide-se em anos ímpares e anos pares, para permitir uma maior diversificação de leituras. A primeira leitura consiste num texto, quer do Antigo Testamento, quer do Novo (Cartas, Atos ou Apocalipse), que é lido sequencialmente, de forma que, a cada uma ou duas semanas, um livro inteiro seja assim lido aos pedacinhos. O Evangelho é lido sempre sequencialmente, e quando termina um, começa outro. Apenas os relatos da Infância de Jesus e da sua Paixão são reservados para os tempos litúrgicos apropriados.

Assim, dada a variedade de textos proclamados, a cada três anos um católico lê a Bíblia quase integralmente, pedacinho a pedacinho. Em que é que este plano é superior a qualquer outro?

Este plano está bem testado por gerações e gerações de crentes, e foi elaborado pelos mais conceituados liturgistas e biblistas. Mais: o missal contém, antes de qualquer leitura, uma pequena explicação do seu conteúdo, contextualizando-a e explorando as ideias-chave. Embora esteja meio mundo convencido do contrário, um cristão não precisa de mais para entender a Palavra de Deus. E porquê? Porque Deus é Pai de todos, não só dos sábios e entendidos, e a Bíblia é a sua Palavra para cada um de nós, não só para os sábios e entendidos. Se a leitura da Bíblia requeresse horas e horas de estudos, não seria leitura para todo o povo. A nós, crentes, basta-nos uma curta explicação e um coração aberto, que o Espírito Santo, o autor da Bíblia, faz o resto. Não nos deixemos cair na tentação de achar que a Bíblia é demasiado complicada para a gente simples que somos! É uma tentação perigosa, que nos leva a colocar na estante, a apanhar pó, o livro mais importante da nossa vida.

Mas há uma razão superior a todas estas para a eleição deste “plano bíblico” sobre qualquer outro: é que as leituras do missal são proclamadas na Eucaristia diariamente em todos os cantos do mundo. Assim, essas mesmas leituras – e não outras – são fonte de unidade do povo de Deus e Palavra da Salvação naquele dia específico. A Igreja Católica é, mais do que qualquer outra Igreja cristã, a Igreja da unidade, que se vive também na unidade da Palavra da Salvação de cada dia. Eu gosto de rezar a Palavra e saber que, naquele preciso momento, essa mesma Palavra está a tocar o coração de um irmão que não conheço, na China, na África do Sul, no Brasil… Deixa de ser o meu plano bíblico, para ser o nosso, porque ser católico é sempre ser em unidade. E porque proclamada como Pão da Vida em cada Eucaristia, imediatamente antes da Comunhão do Corpo e Sangue do Senhor, esta Palavra alimenta-nos divinamente em cada dia.

Queremos uma Palavra para iluminar todos os dias da nossa vida? Tomemos entre mãos o missal ou cliquemos aqui no site em Liturgia Diária, e meditemos diariamente nas leituras propostas, repartindo o Pão da Palavra com os nossos filhos, para que se alimentem também. Acreditemos que esta Palavra foi proclamada nesse dia específico para nos salvar, a cada um de nós…

Como é belo, este mistério!

2 Comments

  1. Pilar Pereira

    Que maravilha… e que desafio para mim! Obrigada pela partilha!

  2. Bom dia! Instrumento simples de unidade, mantém-nos em sintonia em torno da Terra… Se acreditamos que o Espírito Santo inspira a Sua Igreja, sendo católicos, também nós seguimos a Liturgia Diária, ainda que em registo digital!

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