“Há três coisas encantadoras, e que são agradáveis ao Senhor e aos homens: a concórdia entre
irmãos, a amizade entre vizinhos, marido e mulher que vivem felizes juntos.” (Eclesiástico 25, 1)
O verão
O verão chegou, e com ele, as férias grandes das crianças. Mesmo que os pais não estejam ainda de
férias, o tempo passa a outra velocidade: não há aulas, não há TPCs, metade das correrias do dia-a-dia
acabou. E mesmo que sobre a outra metade, não há dúvida de que há mais tempo ao fim do dia para
estarmos juntos.
Algumas famílias irão ter férias ainda este mês. E é preciso aproveitar as férias para refletir,
aprofundar a fé, viver mais intensamente o que acreditamos. Porque se temos mais tempo, é para o
aproveitarmos. O livro de Ben-Sira, ou Eclesiástico, dá-nos pistas muito valiosas para vivermos bem
cada dia. É um bom livro para ler de ponta a ponta este verão! Como livro sapiental, contém máximas
que todos conhecemos, e que talvez não imaginemos serem bíblicas, bem como as bases de muitos
ensinamentos de Jesus no Evangelho. Para este mês, escolhi este verso sobre as três coisas agradáveis
aos homens e a Deus. Tão simples, tão direto, tão verdadeiro!
A concórdia entre irmãos
Quem tem vários filhos, sabe que um ponto chave da educação é a relação entre irmãos. Aproveitemos
as férias escolares para a aprofundar. Podemos, por exemplo, organizar as tarefas de casa com mais
calma, repartindo-as entre os vários filhos, de acordo com as diferentes idades e respetiva capacidade e
grau de responsabilidade. Podemos guardar um momento por dia, para além do habitual momento da
refeição familiar e da oração familiar, para brincarem juntos. Não precisa de ser extenso, basta que seja
constante. Podemos responsabilizar os mais velhos por ensinar alguma coisa aos mais novos.
A concórdia também se faz de respeito. É importante que os mais velhos respeitem os mais novos, não
exercendo sobre eles qualquer tipo de manipulação, como também é importante que os mais novos
aprendam a respeitar os mais velhos, pois à medida que os filhos crescem vão precisando de mais
tempo a sós ou com os amigos, e de fazer coisas diferentes dos irmãos. Há que respeitar o espaço e o
tempo de cada filho, e de ensinar o irmão a respeitar o irmão. Longe de afastar os filhos, este respeito,
este pedir licença, este conhecer os limites, traz saúde à relação.
Como é que os nossos filhos falam uns com os outros? São agressivos? Usam vocabulário pouco
adequado? Abusam do tempo e da paciência dos irmãos? Ou pelo contrário, sabem pedir licença,
agradecer, pedir desculpa? Sabem perder tempo uns com os outros, quando algum precisa de ajuda?
Não deixemos nada ao acaso. Trabalhemos as relações entre irmãos, e estaremos a fazer uma “coisa
encantadora.”
A amizade entre os vizinhos
Aqui onde vivemos, em terras do interior, ao serão de verão, os vizinhos puxam as cadeiras para a rua
ou sentam-se nos banquinhos de pedra construídos para o efeito no exterior das casas, e aí ficam em
longas conversas. Outros, falam a partir das respetivas varandas, ou à janela.
Como nos relacionamos com os nossos vizinhos? Conhecemo-los? Agora que o nosso país está a
mudar, e os vizinhos já não nasceram na rua onde moramos, como era costume no passado, como
fazemos para que todos se sintam em casa? Porque cabe-nos fazer da nossa terra um lugar de partilha,
respeito, crescimento, entreajuda. Sabemos quem precisa de nós na nossa rua? E se precisamos de
alguém, a quem nos dirigimos com confiança? Temos o hábito de oferecer um presente de boas-vindas
aos vizinhos novos, ou de festejar o nascimento de um bebé na nossa rua ou no nosso prédio?
Acolher, servir, agradecer, dar a saudação: gestos simples de boa vizinhança. Outra “coisa
encantadora” para praticar neste verão.
Um marido e uma mulher que vivam felizes juntos
Cuidar da relação do casal: eis uma das prioridades da vida familiar. O verão dá-nos tempo para o
fazer. Caminhadas a dois ao serão, longas conversas ao luar na varanda, ou simplesmente cinco
minutos aqui e ali, bem aproveitados, enquanto os filhos pequenos fazem uma sesta ou brincam junto
de nós, tudo serve para alimentar a relação. É muito mais importante este esforço diário, constante,
para ter tempo a dois, no meio dos afazeres da vida e das rotinas familiares, do que encontrar umas
férias anuais em casal, longe dos filhos e da rotina – ainda que, em casos problemáticos, estas férias
possam de facto ajudar. Mas nunca substituirão a amizade que se constrói dia-a-dia.
Compromisso
Nestes dias longos e mais vagarosos, dediquemo-nos ao que de facto importa na vida: as relações. Ben
Sira sugere que nos centremos na relação do casal, na relação dos irmãos, na relação com a
comunidade, especialmente os vizinhos que partilham a rua connosco. E se aprendêssemos esta
máxima, ou provérbio, do Eclesiástico, de cor? Um feliz tempo de verão para todos!
© Teresa Power, 5-7-25
Como sempre boas sugestões para todos, crentes e não crentes – todos almejamos relações saudáveis e frutuosas.
Boas férias família Power!