Em Caná da Galileia...


Daniel Patrick

Ainda faltam alguns meses para nascer, mas já é o centro do mundo. Os irmãos mal podem esperar para lhe pegar, para o embalar, para lhe oferecer um brinquedo. “Agora já sou crescida, já confias em mim para cuidar do bebé, não é, mãe?” Diz-me a Clarinha. E eu sei que sim, que será para mim um tempo de muito maior sossego, este de ter um filho que nasce numa família já “crescida”. Longe vão os dias de angústia perante o choro de um recém-nascido, os momentos de pânico diante da escolha entre amamentar o bebé ou socorrer o irmão um pouco menos bebé, os dias em que tudo se complicava ao mesmo tempo e não havia mãos que chegassem. Tempos difíceis, esses numa família numerosa em que o mais velho acabava de entrar na escola! Mas quando o bebé nascer, o mais velho terá vinte anos… Resta-me saborear, viver o aqui e agora com uma tranquilidade conquistada e cimentada.

Hoje, sexta-feira, foi dia da ecografia morfológica. Na última consulta, eu perguntara à médica quantos filhos podia levar a ver a ecografia. Ela hesitara um instante, depois, recordando-se talvez que vigiara a gravidez de todos e ajudara vários a nascer, concluíra com um sorriso: “Vou marcar a ecografia para uma sexta à tarde, e assim não haverá por aqui muita confusão… Traga os que quiser!”

Em reunião familiar, decidimos deixar em casa o pai e o Francisco, manifestamente grandes, e levar a Clarinha e os quatro mais novos. “Os quatro juntos fazem o tamanho do pai, não é mesmo? Faz de conta que são só um!”

“Não vai entrar com isso tudo, pois não?” Pergunta-me a auxiliar que, na sala de espera da maternidade, chama o meu nome. Percebi que “isso tudo” são os meus cinco filhos. “Terei de entrar, sim. Não os vou deixar cá fora! Além disso, a doutora está informada”, respondo. “Bem, se a doutora aceita, quem sou eu?” Conclui a auxiliar, com um encolher de ombros antipático. Silenciosos como ratinhos, eles seguem atrás de mim. Só relaxam quando a doutora Sara os vê e, com uma gargalhada, os manda entrar: “Sabem estar muito quietos? E não fazer barulho?” Pergunta. “Em comportamento, eles têm sempre nota máxima”, respondo, orgulhosa. E com sorrisos felizes, começamos a ecografia.

No ecrã, as imagens vão-se tornando cada vez mais perceptíveis. O bebé move-se a valer! Ora contemplamos as mãozinhas, ora a cabecinha bem formada. Depois, ouvimos o coração, que bate cheio de pressa. Por fim, um pequeno presente da Dra Sara: “Que tal agora uma imagem em 3D?” E com um oh de espanto, todos contemplamos o bebé, brincando com o único brinquedo que tem na sua casinha aquática: o cordão umbilical.

Quando, a meio do verão, uma passagem improvisada e fugidia pela sala de ecografias (a Dra Sara é muito atenciosa) nos revelou o sexo do bebé, houve uma explosão de alegria dos rapazes cá de casa e algumas lágrimas da menina mais pequena, que pensava ir ter mais uma bonequinha com que brincar.

Depois, foram várias as sessões de escolha do nome, geralmente à hora do jantar. Pela primeira vez na vida, o pai e eu descobrimos que não estávamos autorizados a escolher sozinhos o nome do nosso filho. Todos se sentiam suficientemente crescidos para dar a sua opinião, e várias das nossas escolhas foram de imediato postas de lado. Havia ainda o detalhe mais complicado: o nome devia ser fácil de pronunciar e soar bem em português e em inglês, e ter relevância na cultura de Portugal e da Irlanda. E, claro, na nossa família era preciso que fosse um nome bíblico ou de santo.

Para encontrarmos um nome de que todos gostássemos, chegámos a percorrer o alfabeto de A a Z, a brincar ao “stop” com as letras e a consultar no telemóvel listas de nomes masculinos. A brincadeira e o disparate foram tantos, que rimos até às lágrimas em alguns dias! Por fim, o consenso espontâneo diante de uma sugestão repentina… Como não pensámos nisso antes? É claro! O nome só pode mesmo ser este! E foi assim que deixámos de falar em “bebé”, para falar no Daniel Patrick.

Daniel,  o judeu fiel que não vacilou na sua fé nem quando atirado para a cova dos leões; Daniel (Comboni), o missionário destemido apaixonado por África. Patrick – finalmente! – em honra de S. Patrício, o santo padroeiro da Irlanda, a quem os irlandeses devem a chegada do cristianismo. Não há família irlandesa que se preze sem um Patrick!

Ainda não nasceu, mas já nos conquistou a todos. Ainda não nasceu, mas já é tão amado quanto qualquer outro filho. É o oitavo e provavelmente o último, mas o entusiasmo à volta do seu nascimento é tão intenso quanto foi com o primeiro. O amor maternal não se divide, multiplica-se, e como o fogo de uma vela que acende quantas outras velas quisermos, transmite-se todo inteiro a cada filho gerado. Nas nossas sociedades modernas, há por vezes filhos a menos (como pode uma sociedade moderna, pós-proclamação de direitos humanos, tolerar o aborto…), mas nunca há nem haverá filhos a mais.

Daniel Patrick, que o Senhor te continue a abençoar e a abençoar-nos a nós através da tua vida!

Ámen!

10 Comments

  1. Felicidades para esta família que só conheço virtualmente . Deus vos abençoe

  2. Querida Teresa que graça partilhares estes momentos connosco! Bem hajas! Já anseio pelo Daniel Patrick!

  3. Maria Amélia, mãe da Teresa

    Estou desejosa de te ver, Daniel! Sou a tua vovó Mime e tu és esperado com muito carinho por mim….fui avó aos 50 anos e agora com 70 serei, se Deus quiser, a tua vovó.
    Apesar dos teus manos já poderem ajudar muito, espero também ajudar! Cá te espero e vai tudo correr bem!

  4. Catarina Silva

    A minha aposta é que seria um menino. E é fácil adivinhar, pois é sempre menino, menina, menino, menina… Ora a última é a Sara, logo para não fugir à regra teria de ser um menino! Que tragas muita alegria à tua família querido Daniel! E que sejas muito, muito Feliz! Que Deus vos abençoe! Beijinhos

    • Bem, tivemos dois meninos seguidos: o Tomás e o David. Mas a verdade é que nunca chegaram a coexistir “cá fora”, pois o Tomás morreu antes do David nascer. Assim, na prática, foi sempre alternado sim! Quem sabe, sabe 🙂

      • Catarina Silva

        Sim! Quem sabe, sabe! 😁
        E a grande sabedoria, aquela que vocês já alcançaram, é a de entregar tudo nas mãos de Deus, deixar que Ele guie a nossa vida pelos caminhos que entende, esperar pacientemente (esta parte é muito difícil…) e deixar-se maravilhar com as Suas escolhas…. Mas isso já vocês fazem melhor que ninguém e disso já vocês dão testemunho (mas testemunho concreto, vivido…) também melhor que ninguém! Obrigada!

  5. Fiquei tão comovida com este texto… que Deus o guarde, que Deus vos guarde! Um beijinho muito grande!

  6. Foi com muita alegria que fiquei a conhecer a identidade do Daniel Patrick! Que Deus vos continue a abençoar a todos e a falar aos nossos corações (também) através de vós!

  7. Margarida Campos

    Muitos parabéns a toda a família! Serão tempos magnificos de grande alegria para todos🙂. O Daniel ficará resplandescente com a família que o espera, embora já os deva conhecer a todos pelo nome….he he….um grande beijinho para todos! Margarida, Luís, Rita e Ana Luísa💖

  8. Licínia Maria Rodrigues Martins Vieira

    Parabéns, parabéns pela vossa alegria contagiante e por conseguirem (todos e também o Daniel) espalhar a vossa sabedoria e forma de viver. Mesmo de férias estou sempre atenta pois, apesar de eu continuar muito na sombra, ensinam-me a experimentar a suavidade do pensamento. Um beijo de gratidão.

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