Era uma caverna, eram treze jovens. Mas durante quinze dias, era o mundo inteiro, eram todos os nossos filhos. Na Rússia, o Mundial, com as suas equipas profissionais e bem treinadas, apelava a nacionalismos, entre lágrimas e risos. Na Tailândia, uma outra equipa de futebol, pobre e desconhecida, apelava à nossa solidariedade, entre lágrimas e, por fim, muitos risos sentidos.
Foram quinze dias que nos fizeram sofrer. Acordar de manhã e os meninos a perguntar: “Já saiu alguém da gruta?” Chegar à praia, dar um mergulho e os meninos a perguntar: “E agora, mamã, vê na net se já saiu mais alguém da gruta!” Chegar à noite, à oração familiar, e entre todas as intenções do Terço, uma central: “Que todos os meninos e o seu treinador saiam da gruta!”
Foram quinze dias que nos fizeram sonhar. De todas as partes do mundo acorreram profissionais, especialistas, mergulhadores e engenheiros, médicos e enfermeiros, ou simplesmente voluntários para, segundo mostraram as reportagens, fazer as refeições ou manter as casas-de-banho limpas para todos os socorristas.
Foram quinze dias em que todos sonhámos que o mundo era assim. Sonhámos que, diante dos desastres dos nossos irmãos, todos nos mobilizávamos, todos uníamos esforços, todos metíamos as mãos ao trabalho dando o que tivéssemos para dar, desde traduzir conversas até construir mini-submarinos.
Sonhámos…
Porque há milhões de crianças que vivem em cavernas, prisioneiras de abusos sexuais, escravizadas em trabalhos forçados, exploradas em pobreza extrema, procurando alimento no lixo e carinho em casas de prostituição.
Porque há milhões de crianças que vivem em cavernas, com quartos onde não falta nenhum brinquedo nem o mais recente telemóvel, rodeadas de tecnologia e sem um único abraço.
Porque há milhões de seres humanos que nunca ouviram falar de Deus, que vivem na escuridão das suas grutas, sem o Pão da Vida, sem o Vinho da Salvação.
A caverna da Tailândia permitiu-nos provar a nós mesmos que os nossos sonhos mais utópicos podem tornar-se realidade. Se quisermos, podemos ser solidários. Se quisermos, podemos olhar para lá do nosso umbigo, das nossas férias, do Mundial na TV, e estender a mão ao irmão que vive na caverna aqui ao lado. E se não bastar estender a mão, atravessaremos túneis escuros e passagens inundadas, poremos em risco a própria vida, ofereceremos tudo o que tivermos para dar, porque o irmão preso na caverna se parece com o nosso filho, a nossa filha, o nosso pai, a nossa mãe, o nosso amigo.
A caverna da Tailândia mostrou-nos, como num espelho, a caverna de cada um de nós. É que todos nós, um dia, vivemos prisioneiros nas nossas cavernas completamente inacessíveis, sem luz, sem oxigénio, sem alimento. E então, Jesus chegou, e atravessou o túnel da morte, e como o herói da Tailândia, deu a vida para que a nós não nos faltasse o ar e pudéssemos respirar, sorrir, viver. Mas não demos conta…
Cada recém-nascido que é batizado é retirado desta caverna atravessando as águas, nos ombros de Jesus. Acreditamos mesmo nisto, sentindo a urgência do sacramento, quando pedimos o batismo para os nossos filhos? Ou pelo contrário, adiamo-lo indefinidamente, sem pressa, à espera do “tempo certo”?
O Papa Francisco fala continuamente de uma Igreja em Saída, de uma chave missionária que nos permita entender toda a vida da Igreja. E todos nós, que fomos resgatados, precisamos de entender a missão evangelizadora com a mesma intensidade e urgência, a mesma corrida contra o tempo, a mesma questão de vida ou morte com que sentimos o resgate da caverna da Tailândia.
Onde está o teu irmão? (Gn 4, 9)
Prisioneiro na caverna. E eu, Senhor, estou disponível para o ir buscar. Eis-me aqui. Podes enviar-me!
O resgate na Tailândia provou que há milagres.
O impossível aconteceu.
Espero que nao esquecam o mergulhador herói que voluntariamente deu a vida para salvar aqueles meninos.
Que estes exemplos e milagres nos facam acreditar no bem da humanidade, no meio de Tantas notícias negativas no mundo… Turquia, USA, Rússia..
Que belo texto e apelo!
É bem verdade, Jesus mostrou-nos a Vida que vai além da nossa vida aqui no mundo, já eramos amados antes de existirmos e Deus quer que façamos parte do Seu Reino no Céu. Também nos mostrou a Verdade sobre nós, Deus, o mundo e a vida. Também nos mostrou o Caminho para alcançarmos a Vida e vivermos segundo a Verdade, pois sem Ele estavamos condenados.
E infelizmente continuamos nas nossas cavernas, esquecemos o motivo principal de acreditar: Jesus é mesmo o Filho de Deus, ficamos pela Fé e pela religião como um enriquecimento espiritual em vez de ser o conhecimento e reconhecimento de Deus, de fazer o que é justo e verdadeiro, a Igreja ajuda-nos a sermos felizes e sentirmo-nos bem em vez de ajudar-nos a viver na Graça de Deus e nos confirmar na Fé, não se levam as crianças à missa pois esta torna-se um convívio e celebração da comunidade esquecendo o motivo principal do oferecimento a Deus no Altar, perdemos o sentido do pecado e como afecta a nossa relação com Deus, indicamos que o pecado nos desumaniza e que quebra a fraternidade entre os irmãos esquecendo a perda da Graça de Deus, não falamos de conversão mas de evangelização esquecendo a alegria no Céu por cada pecador que se converte, queremos o Reino no mundo numa comunidade de irmãos esquecendo a Verdade e o Caminho para alcançarmos a Vida no Reino dos Céus.
Triste caverna onde os nossos pastores não nos ajudam, não vão além da comunidade e do humanismo cristão. Nós queremos ser felizes, procurando a felicidade no lugar errado, os nossos pastores em vez de nos mostrarem o Caminho, a Verdade e a Vida e nos confirmarem na Fé apenas nos enriquecem espiritualmente na nossa busca.
O seu texto está muito belo, tem a generosidade de falar das nossas cavernas com caridade ao mesmo tempo que nos apela a reflectir. Obrigado por falar a verdade com tanta generosidade.
Que podemos nós fazer quando os nossos pastores não vão além da comunidade e do humanismo cristão e não nos confirmam na Fé? Quando transformaram o acreditar num sentir bem em vez de se encontrar o Deus único e verdadeiro como Jesus pediu?
Dou só um exemplo daqui da festa da Esperança onde tudo se resumiu à esperança num mundo melhor, ninguém mostrou ou falou aquelas crianças sobre o Reino dos Céus, a Esperança do alcançar e de que Deus nos ajuda a alcançar. Que podemos fazer para sairmos destas cavernas?
Gostei imenso da analogia que fez. Excelente texto, como sempre.