Em Caná da Galileia...


Paciência

Perante a minha oitava gravidez, a pergunta que mais vezes me é feita tem-me deixado surpreendida. Não, não é se sou rica – ao que eu respondo sempre que sim, pois quem tem filhos é rico – nem se a minha casa é uma mansão – ao que eu respondo que não, que temos um quarto para rapazes e um para raparigas, independentemente do número – A pergunta que mais vezes me é feita é esta: “Onde vais tu arranjar paciência para tantos filhos?!”

Eu respondo em tom de brincadeira, dizendo que a paciência faz parte do kit de entrega de cada criança. Mas não deixo de me surpreender com esta questão, que parece preocupar meio mundo. Andará realmente meio mundo a lutar contra a falta de paciência?

É verdade que a paciência falta muitas vezes. É verdade que grito mais do que gostaria, que ralho mais do que gostaria, que suspiro mais do que gostaria. É verdade que em alguns momentos do nosso dia, quando todos estão a ralhar uns com os outros ou as birras se multiplicam, os meus filhos mais velhos olham para mim e dizem a brincar mas falando a sério: “E tu ainda queres mais um?”

Mas também é verdade que não há nada melhor no mundo que observar uma criança a brincar ao faz-de-conta, ou apanhar um bebé em flagrante na sua primeira gargalhada, ou testemunhar o momento único em que um filho junta pela primeira vez três letrinhas pequeninas e soletra: “Mãe”.

Não há nada melhor no mundo que abraçar uma criança, muitas crianças, a meio da tarde, quando os vou buscar à escola para lhes servir o lanche e escutar as suas histórias engraçadas. Ou ir ter com eles às suas camas, caminhando no escuro, para lhes dar um beijo, muitos beijos de boas-noites.

“Mamã, não interrompas a minha corrida de caracóis”, grita o António lá fora no quintal, deitado no chão a contemplar três lentos caracóis em “corrida”.

“Mamã, queres provar os meus bolinhos de lama?” Pergunta a Sara, oferecendo-me um prato coberto de terra e flores aos bocados.

“Mamã, estou quase profissional no basquetebol”, atalha o David, ocupado a encestar bola atrás de bola no pátio.

Eu vou respondendo meio distraída, mas não tão distraída que não me dê conta do milagre que tenho diante de mim.

Por isso, quando vejo uma mãe de muitos filhos grávida de novo, eu não lhe pergunto pela paciência. Pergunto antes:

“Qual o momento que mais te encanta na gravidez?”

“O que te fascina mais num bebé?”

“Preferes a conversa de uma menina de cinco anos ou a rebeldia de uma menina de quinze? Qual a que te desafia mais?”

“Não é fantástico ter sentados à mesma mesa um jovem universitário a falar das leis da Física e uma criança de oito anos a mostrar-nos à força a sua coleção de selos do Mundial?”

Depois faço algumas perguntas mais práticas, porque sei que mães de muitos filhos são poços de sabedoria:

“Como fazes para impedir que os mais pequenos interrompam o estudo para exames dos mais velhos?”

E ainda:

“Tens algum segredo que possas partilhar para manter a casa arrumada?”

Porque educar uma criança não é um treino de paciência. É verdade que a treinamos, mas isso é “efeito secundário”. Educar uma criança é um treino na contemplação do milagre da vida. Educar uma criança é um exercício de consciência, mais poderoso que qualquer exercício de respiração, yoga ou outros em voga, que nos permite centrar no aqui e agora e deixarmo-nos maravilhar. Educar uma criança é um privilégio, uma honra, uma partilha de responsabilidades com o próprio Deus. Educar uma criança é uma universidade onde se aprende a viver. Educar uma criança é a uma das mais belas formas de gozar a vida.

Deixemos pois de suspirar de impaciência quando chegamos a casa e de desejar que o tempo das fraldas, das noites mal dormidas, das birras, das contas de dividir e da tabuada termine depressa. Eduquemos cada filho de alma e coração e contemplemos neles o milagre da Criação. E agradeçamos a Deus ter-nos feito tamanho dom. De cada vez que Ele o fizer…

8 Comments

  1. Quando vou a um lar ou Centro de Dia, onde as pessoas se queixam uma para um lado, outra para outro, eu digo : se vocês quiserem eu tenho um remédio que é muito bom para passarem uma velhice em paz com toda a gente e bem dispostos é um remédio que é preciso tomá-lo todos os dias, é um bocado amargoso, mas é bom, muito bom. Não se compra na farmácia, mas é muito bom. Alguns perguntavam: então qual é? Eu queria!-Respondo:-É a paciência.

  2. Ah, interessante! Pensei que a pergunta mais frequente fosse: “É menino ou menina?”, porque, da minha parte, é isso que está a deixar-me curiosa 🙂

    • Quanto a isso, Inês, esperemos que seja menina, porque se for menino arrisca-se a ficar sem nome… É que ninguém se entende cá em casa quanto a nomes de rapaz :))) Bjs!

  3. Teresa Parabéns! Não fazia ideia. Que bom. Que graça. Que dom. Um beij grande e abraçado
    Ana luisa

  4. Catarina Ramos Tomás

    Eu só tenho três filhos! Três rapazes! E a pergunta mais frequente é “como é que consegues?” logo seguido de um “coitada!”

    Entristece-me esta perspectiva que as pessoas têm de ter filhos. Não sou super mulher por isso consigo porque o faço com amor.
    Digo muitas vezes que adoraria ter sete ou oito, e é a loucura…
    Paciência é preciso para viver nesta sociedade onde os filhos são sinónimo de tudo menos de alegria e bênção…

  5. SIm. sim, sim!!!!!!

  6. Tiago Atalaia

    Olá Teresa, partilho de todas as situações que descreves. Sem dúvida que é um milagre maravilhoso vê-los crescer e em cada passo nosso, erro nosso, ver que Deus nos ajuda a que eles cresçam felizes, responsáveis, atentos à sua volta e preparados para o futuro. Parabéns Teresa por ires repetir uma experiência que é única. Deus foi muito amigo vosso 😉

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