“Mãe, hoje quero rezar pela minha amiga. Ela só vai ter prendas de Natal se tiver boas notas a tudo. E eu sei que ela não consegue ter… Nunca vai tirar positiva a Matemática! Vamos rezar muito para que ela tenha prendas de Natal. E nós também lá podemos ir levar uma prenda, não achas? Assim, mesmo que a mãe não lhe dê nada, nós damos!”
Descansei a Lúcia. Claro que iremos levar uma prenda de Natal à sua amiga. E a outros amiguinhos. Não vamos permitir que alguém fique sem receber um pequeno presente nesta época…
Este pequeno diálogo à hora da oração familiar fez-me pensar em duas coisas diferentes.
A primeira é a importância excessiva que damos à escola em detrimento de outros lugares da vida dos nossos filhos. Ser bom aluno tornou-se num valor absoluto, e quantos pais eu conheço que, para os filhos terem as notas máximas, acham justificado eles faltarem à missa dominical, às atividades e passeios familiares, aos magustos e almoços de paróquia “não obrigatórios”, à catequese e aos compromissos de grupos extra-curriculares! A escola é muito importante e ajudarmos os nossos filhos a dar o seu melhor na escola é fundamental. Mas a vida é mais do que a escola e há na vida valores mais elevados que as notas escolares.
A outra consideração prende-se com este assunto do merecimento. Merecer ou não merecer uma prenda é uma “invenção” do Pai Natal, que segundo a Tradição, tem um pequeno ajudante que lhe diz quais os meninos que se portaram bem durante o ano e quais os que se portaram mal. Mas esta mensagem não tem nada a ver com o Natal de Jesus. Jesus não nasceu porque nós merecemos; antes pelo contrário!
Ele veio para o que era seu, e os seus não O receberam. (Jo 1, 11)
Já no antigo Israel, Moisés explicara ao povo a razão de ser da predileção divina, do seu amor absolutamente espantoso para com Israel:
Não foi por serdes mais numerosos que outros povos que o Senhor se agradou de vós e vos escolheu; vós até éreis o mais pequeno de todos os povos. Porque o Senhor vos ama e é fiel ao juramento que fez a vossos pais, por isso, é que, com mão forte, vos tirou e vos salvou da casa de servidão. (Deut 7, 7-8)
Deus, na verdade, não nos ama porque nós somos bons; ama-nos porque Ele é bom. E é porque Ele é bom que nos dá o que de melhor tem: Jesus.
No Natal, damos presentes aos filhos – presentes simples, como Deus é simples – não porque eles sejam bons, mas porque nós somos bons; não porque eles mereçam, mas porque nós os amamos. Assim como são. Merecedores ou não, obedientes ou rebeldes, bons ou maus alunos. Se os quisermos recompensar ou castigar por esse valor absoluto em que se tornaram as notas escolares – e eu nunca fiz nem uma coisa, nem outra em minha casa – escolhamos outra data, que a madrugada do dia 25 de dezembro já está ocupada.
Sim, sim, sim!
Tive uma conversa sobre isso com a minha filha de 8 anos: Eu disse-lhe que ela tem muita sorte porque, apesar de se portar mal, o menino Jesus é tão bonzinho que lhe traz sempre prendas.
Porque Ele é bom e gosta dela mesmo que ela se porte mal 😉
Eu sou muito exigente com a escola, mas NUNCA me passaria pela cabeça usar o Natal e o menino Jesus para punir os meus filhos!
Vê-se que muitas pessoas não entendem o espírito do Natal. Por exemplo muita gente fala que estamos no Natal e eu digo que não, estamos no Advento.
Tenho tanta pena que se dê tanta importância a coisas irrelevantes, em vez de preparar e festejar o nascimento do Salvador.
Na nossa família só as crianças recebem prendas do menino Jesus, e eu faço questão que sejam coisas simples. Afinal de contas – como eu digo à minha filha – quem faz anos é o menino Jesus, ele é que devia receber prendas. Mas ele é tão bom que dá em vez de receber.
Saibamos nós dar um pouco do nosso tempo em retribuição… Ele dá tanto e pede tão pouco…