Testemunhos


A importância das tradições em família

Testemunho da Isabel Marantes:

Desde que chegámos ao Canadá que, por volta de meados de Outubro, eu sentia uma enorme  frustração dentro de mim. As decorações do “Halloween” estavam por todo o lado, nas casas, nas lojas, nos carros…

Nas escolas dos nossos filhos (católicas!) não se falava noutra coisa: os disfarces, as máscaras, as brincadeiras “assustadoras” que se iriam organizar nesse dia, etc.

Era óbvio para mim que a celebração do “Halloween” como festa dos doces e dos sustos estava profundamente enraizada culturalmente deste lado do Atlântico.

Mas o que eu não conseguia compreender era como é que famílias católicas que eu conhecia bem, que sabia os seus valores e o quanto lutavam por serem coerentes com a sua Fé, encolhiam os ombros quando nos informavam que iam fazer uma “Haunted House” (casa assombrada) numa das escolas, com prémios para os disfarces mais assustadores. Diziam: “É só uma brincadeira!”… Isto ao mesmo tempo que havia um vazio de festejos no dia de Todos os Santos nas escolas (aqui o dia de Todos os Santos não é feriado), sem ninguém reclamar.

Até que um dia, ao falar com alguém da direcção de uma das escolas, explicando que era bastante confuso para mim que uma escola católica festejasse dessa forma a véspera do Dia de Todos os Santos, percebi a razão de tanta resistência em mudar esta tradição: as memórias vividas em família!

Vi claramente o brilho nos olhos desse professor ao explicar como as suas melhores memórias em família eram andar vestido de fantasma com a sua família pelas portas da vizinhança na noite de “Halloween”.

Nós, pais (e também avós, tios, padrinhos, professores, catequistas e sacerdotes), temos uma grande responsabilidade nos festejos que fazemos e como vamos construindo com os nossos filhos as melhores memórias em família: se à volta da televisão ou à volta da mesa, se à volta de um carro novo ou à volta do canto de oração, se à volta de comprar um novo brinquedo caro ou à volta de tentar arranjar o velho, se vestidos de fantasma em família, ou vestidos de santos em família, festejando a luz que cada um de nós é chamado a ser e o banquete que nos espera no Céu.

Não tenhamos dúvidas de que:

Onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração.  Mateus 6:21

Isto é, onde estiverem as melhores memórias que proporcionarmos em família, é aí que os nossos filhos vão entender que está o nosso coração. E, provavelmente, é também aí que os nossos filhos procurarão o seu tesouro.

Procuremos, pois, criar boas memórias em família à volta do que é Beleza, do que é Verdade e do que é Bem.

E que entrem pelos cinco sentidos, como tão bem escreveu a Olívia no seu post!

Porque depois temos mais esperança de que o seu coração, quando crescer, se sentirá naturalmente mais atraído por caminhos que conduzam a essa mesma Beleza, a essa mesma Verdade e a esse mesmo Bem…

Amanhã contarei como celebrámos este dia cá em casa e o que conseguimos fazer este ano nas escolas e que deixou todos tão entusiasmados que pediram que para o ano repetíssemos os festejos!

Mas aqui fica, desde já, a foto com a família vestida a rigor!

 

 

6 Comments

  1. Pilar Pereira

    Obrigada por esta reflexão!
    Aguardo o relato. 🙂

  2. É mesmo isso, Isabel, as tradições, as belas tradições familiares! Cá em casa, a véspera de Todos os Santos deve toda a sua beleza às tradições irlandesas, que o Niall trouxe do Halloween da sua infância: muitos jogos, muita brincadeira, a criançada toda na rua à volta das fogueiras, os adultos em alegres conversas, enquanto vão vigiando distraidamente os mais novos… Era um Halloween sem maldade, com fantasmas e monstros, sim, mas muita inocência e um grande espírito cristão, como é normal na Irlanda. Não era um Halloween mais pagão que o nosso pão-por-Deus de certeza! Os tempos mudaram, e hoje, a inocência perdeu-se e a fealdade instaurou-se. Em vez de crianças a brincar, temos adolescentes a embebedar-se, como ouvi relatos na minha escola. Há que criar novas tradições, é urgente fazê-lo, pois o vazio nunca é positivo! Por isso, o Holywins na noite de 31 e a celebração de todo o dia 1 são tão importantes. Venha daí esse relato!

  3. Estão tão giros!! 😀 Muito obrigada pela partilha!
    Também estou curiosa para saber como continua a história! 😉

  4. Tradições familiares
    Penso inúmeras vezes nisso, desde que rezamos a Consagração à Mãe de Caná em família (e desde que a Teresa me explicou o que está subjacente, porque me fazia muita confusão uma nova Consagração quando já existia uma) que penso exactamente nisso. O que quero eu para os meus filhos? As virtudes naturais, mas também e acima de tudo as teologais. Mas isso leva-me ao texto de hoje e ao como me esforço para que brote. Que imagens quero que os meus filhos tenham guardadas de momentos felizes em família?
    Talvez por a minha mãe ter morrido cedo, sempre foi algo que me preocupou, porque sei que muito do que me sustenta são memórias dos momentos que passámos, onde eu infernalmente lhe contava todo o meu dia ao mais ínfimo pormenor e ela, doente mas sem um olhar de cansaço ou dor, me ouvia enquanto cozinhava.
    Recordo, quando a Constança nasceu, que ponderámos deixar a catequese. Mas sinceramente o que pensámos, rezámos e partilhámos com o nosso frade/orientador espiritual foi: que imagem de pais/família queriamos transmitir-lhe? E tenho, temos, a certeza de que muitos dos momentos felizes, das memórias já criadas dos nossos filhos, são momentos vividos na catequese e em família: o Natal passado no convento com os tios, o sair pelas ruas a cantar as janeiras connosco e com a tia enquanto o tio espera à janela, a vigília pascal e todas as cerimónias do tríduo a que todos vamos e que implicam ensaios sem fim. Sim, são estas as tradições, as memórias, que quero que guardem. São estes momentos de algazarra, de sorrisos e também de ralhetes para que sosseguem que quero na sua memória! Rezo para que o Senhor nos ilumine e nunca nos afaste deles (dos nossos filhos). Aliás, tenho sempre isso presente quando rezo a perda e o encontro menino Jesus no templo.

    • As tradições católicas são tão cheias de festa sempre, não é verdade? No catolicismo, até as celebrações naturalmente mais tristes – como a Sexta-Feira Santa ou o dia dos Fiéis Defuntos – podem deixar marcas de festa, cor, serenidade e profundidade nas nossas crianças! Aproveitemo-las para criar memórias familiares, como bem sugeres e sugere este texto!

  5. Que detalhe tão importante esse das tradições familiares… Aqui em casa às vezes falamos disso. É tão bom recordar o que faziamos em criança com a família. Nós não tinhamos tradições de vida cristã mas sim pequenos detalhes muito lindos como comemorar todos os anos o dia em que os meus pais se mudaram com as filhas para a sua própria casa comendo exactamente o mesmo que eles comeram nessa noite! Na véspera do nascimento da mãe a avó fez um doce típico de Natal para toda a família (antes de ir para o hospital) e então a mãe todos os anos, nesse mesmo dia, faz esse doce para nós, em família! Enfim…pouco a pouco parece que se perdem essas tradições mas vamos lutando para que se mantenham…apesar da distância e da dificuldade de estarmos todos juntos na mesma casa! Imagino como serão belas as recordações de tantos que rezavam o terço em família, que iam à missa do galo juntos, que ouviam e aprendiam sobre Jesus pela boca e exemplo dos seus pais. É isso que os filhos de caná recordarão mais tarde…e isso é tão belo!

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