Testemunhos


A rotina dos dias sem rotina

Testemunho da Olivia Batista, escrito através do telemóvel, nos intervalos das tarefas e solicitações do dia e a prestações…

É sábado, sobrevivemos à primeira semana de isolamento voluntário e agora obrigatório aqui na nossa casa, nesta pequena aldeia perdida no centro de Portugal. Para quem trabalha naquilo que gosta, como é o nosso caso, foi extremamente difícil reconhecer que devemos ficar em casa a cuidar dos nossos. Falava a Teresa em como era tão bom se quiséssemos o que Deus quer nesta quaresma… mas é tão difícil perceber o que Deus quer!

Assim, temos sido abençoados com esta experiência (a primeira vez que estamos juntos tanto tempo seguido) que nos tem desafiado a sermos pacientes e muito criativos! Agradeço a Deus vivermos aqui, termos o que precisamos, estarmos juntos. Ao longo dos dias, por várias vezes, uno a minha oração aos que sofrem, aos que lutam nos hospitais, eu aqui na minha bolha de paz, eles num suplício de vida ou morte… E agradeço as minhas amarguras, unindo também o meu sofrimento à cruz de Jesus. Caminhando. Em passos inseguros, tentando manter pequenas rotinas em dias diferentes do habitual. Perguntavam-me (ao telefone) o que é que vocês fazem o dia todo?

Fazemos muitas coisas e no fim do dia parece que não fizemos nada de jeito… Há tempo para arrumações e muito mais para desarrumações… De manhã era suposto dedicar-se uma hora e meia ao estudo, não há tele escola, mas começa a chegar uma chuva de e-mails da diretora de turma…

Temos turnos para ajudar a fazer o almoço (as mais novas) e o jantar (a mais velha), também fazemos o pão dia sim dia não.

 

Conseguimos brincar, fazer puzzles (e perceber que faltam sempre peças…) e jogar à bola.

Fazemos pequenas catequeses: esta foi sobre momentos de esperança na história do povo de Deus: A Margarida escolheu a libertação do povo do Egipto, a Lúcia escolheu quando Jesus nasceu e a Maria escolheu a Ressurreição de Jesus.

Também já tínhamos falado de Noé, da sua arca fechada, do tempo atribulado… E do arco-íris, símbolo da Aliança.

Agora podemos fazer a oração familiar a meio da tarde, quando ainda estamos frescos e cheios de energia!

Também por cá se joga às escondidas, a Lúcia ganhou o prémio de originalidade…

O trabalho que eu trouxe para casa, continua ali numa caixa (numa espécie de quarentena) porque alguma coisa tem de ficar para trás nestas situações…

E claro, como qualquer família organizada que se preze, a nossa cozinha está sempre arrumadinha, a mesa de trabalho sempre um brinquinho, os livros arrumados por autor e por título, já para não falar na roupa sempre lavada, passada e arrumada nos armários!

 

(e sim, temos birras, amuos, embirracões, queixinhas, mau humor, sentido de humor, alguma paciência e muita vontade de ultrapassar as dificuldades!)

 

Dizem que ainda nos espera um longo caminho neste combate ao covid. Que nesse caminhar tenhamos sempre o coração grato, a mente clara, o corpo atento e sobretudo a alma pronta!

Confia no Senhor e faz o bem

habitarás a terra e viverás seguro

Confia ao Senhor o teu destino

espera n’Ele que Ele atuará

Descansa no Senhor,

põe n’Ele a tua esperança” Sl. 37

 

 

 

 

One Comment

  1. Obrigada Olívia por nos contares um bocadinho da vossa vida, do vosso dia a dia. Realmente esta situação menos boa que estamos a passar, dá-nos tempo para refletir, rezar, meditar textos Bíblicos,estar em família, tudo sem pressas e assim vivermos verdadeiramente a Quaresma… Boa semana

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