Em Caná da Galileia...


A Veste Branca

“Já encontraste o vestido de batismo?” Perguntei de novo à minha mãe por telefone. Andávamos as duas à procura dele, sem saber muito bem em que casa o tínhamos arrumado. De facto, o vestido de batismo dos meus sete filhos e de alguns dos meus sobrinhos tinha sido sempre o mesmo, feito a partir do meu vestido de casamento, que fora também o vestido de casamento da minha mãe. Assim, há muitos anos que aquele tecido marcava o ritmo de casamentos e nascimentos na família, e nós tínhamos por ele um carinho especial.

“Sim, já encontrei”, respondeu-me a minha mãe. “Mas tenho más notícias: a seda do vestido está a desfazer-se, o vestido está roto e sujo, e na lavandaria disseram-me que a sua vida acabou, e não vale a pena tentar recuperá-lo. Terás de pensar noutra coisa para o Daniel!”

Desliguei o telefone e fiquei pensativa. “É só um vestido”, pensei. A Clarinha, que escutara o telefonema, quis saber o que se passava, e contei-lhe. Ela ficou alguns minutos em silêncio, depois arriscou:

“E se eu fizesse a Veste Branca do Daniel? Acho que seria capaz… Quero dizer, acho que podia tentar, e se resultasse, ótimo. Se não resultasse, então pensavas noutra coisa… Eu gostaria tanto, tanto de fazer a sua túnica!”

Fiquei encantada: “Uau! Clarinha, isso seria o máximo! Vamos a isso? Diz-me o que precisas, e mãos ao trabalho!”

Parecíamos duas crianças entusiasmadas, partilhando gargalhadas e ideias. Não tardou muito para a Clarinha ter o molde pronto e para irmos, juntas, à retrosaria, procurar o material necessário. Depois, com a ajuda de vídeos no Youtube – foi assim que a Clarinha aprendeu a costurar, pois eu mal sei pregar um botão – a Clarinha meteu mãos ao trabalho. Tarde após tarde, ao chegar da escola, a Clarinha cortou, coseu, fez e desfez, avançou e recuou… O escritório ficou temporariamente transformado em sala de costura, e quando a Clarinha lá não estava, ficava fechado à prova de crianças e sobretudo à prova de gatos. E a obra de arte foi surgindo…

Por fim, a Veste Branca ficou pronta, e a Clarinha, com um sorriso luminoso, mostrou-a à família. Uma exclamação de espanto genuíno percorreu a sala.

“Clarinha, o Daniel vai ficar mais bonito que qualquer príncipe inglês!” Disse-lhe com sinceridade. O vestido não está só bonito: está magnífico, esplêndido, maravilhoso! Vejam se concordam:

Já não falta muito para o Natal e, com ele, o batismo do nosso bebé. Ele irá entrar no santuário vestido com as suas roupinhas de todos os dias, e assim deverá estar até depois de ser salvo pelas águas do batismo. Então, o senhor padre pronunciará as palavras:

Agora és nova criatura e estás revestido de Cristo. Esta veste branca seja para ti símbolo da dignidade cristã. Ajudado pela palavra e pelo exemplo da tua família, conserva‐a imaculada até à vida eterna.

Nesse momento, a Clarinha, madrinha do seu pequenino irmão, irá revestir o Daniel da sua Veste Branca, expressão visível do milagre que a água operou.

Certamente que, ao abraçar o Daniel assim vestido de alvura, escutarei no meu interior a voz do anjo do Apocalipse:

«Estes, que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e donde vieram? São os que vêm da grande tribulação; lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro.» (Ap 7, 14)

E rezarei para que o pequenino Daniel e nós, sua família, saiamos vencedores da “grande tribulação” deste mundo…

Ah, mal posso esperar!

6 Comments

  1. Está lindo, Clarinha! E acima de tudo feito com muito amor!
    Alegramo-nos convosco para o grande dia!

  2. Helena Atalaia

    Que doçura! Está maravilhoso. Parabéns pela dedicação e perseverança fruto de um coração grande que ama.

  3. Sónia Santos

    Que fantástica que és Clarinha!

    Muitos beijinhos para todos.

    Sónia

  4. Licínia Maria Rodrigues Martins Vieira

    Lindo, lindo, esse amor e dedicação: dos pais, dos irmãos e da irmã perseverante e humilde. Com naturalidade como a vossa, o mundo seria bem melhor.
    Quando o Daniel chegar, diz-lhe que já é muito amado também por todos aqueles que estão à distância.
    Um obrigado todos os dias e um beijo de paciência para a hora que se aproxima.

  5. Querida Teresa, minha adorável mulher.
    Mentiste. Escreveste “ mal sei coser um botão”. Tu não sabes coser botões DE TODO. Mas isso não tem importância nenhuma. Sabes fazer outras coisas fantásticas. Os teu leitores não sabem o que é uma carne feita no forno por ti. E perguntam sempre como consegues trabalhar 30 horas por dia. O resto é só botões!

  6. Isabel Guimaraes

    Mas que bem dito, Niall! Eu também sou daquelas que acho que o vosso dia estica muito mais para além das 24 horas! Depois lembro-me que isso só é possível porque vocês realmente se deixam atravessar por Deus e pela mensagem que Ele vos pede para viverem e transmitirem…
    Obrigada pela inspiração que são para todos nós…Bem-hajam!

    Clarinha, que espectáculo! Quando começas a aceitar encomendas? 😉

    Um grande abraço para todos.

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