O mistério da vida e da morte

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Há pouco mais de uma semana, alguns paroquianos de Mogofores foram, como todos os anos, a Fátima de bicicleta. Cá de casa, estava pensado o Francisco ir, mas os exames não lho permitiram. Participou contudo, cheio de entusiasmo, o André, o rapazito que vive temporariamente connosco. Das Famílias de Caná, participaram o João Teles e a Vera Ribeiro.

A Vera é educadora de infância e bem conhecida de muitas Famílias de Caná, pois geralmente oferece-se para cuidar das crianças durante os ensinamentos, evangelizando-as com carinho e imaginação. Pais e filhos chegam ao fim dos encontros muito felizes com o seu trabalho, e nós ser-lhe-emos eternamente gratos pela sua constante disponibilidade, generosidade e alegria.

Ir a Fátima de bicicleta era muito importante para a Vera. Nada, nem o cansaço que andava a sentir, nem nenhum outro obstáculo (e houve vários) a fizeram desistir dos treinos e, finalmente, da bicicletada. Mas a Vera não chegou a Fátima: pelo caminho, sofreu um ataque cardíaco que a deixou, até hoje, entre a vida e a morte, nos cuidados intensivos dos HUC. A Rede de Oração das Famílias de Caná já está a pedir ao Senhor por ela e pela sua família, e os seus amigos e companheiros de trabalho e vida paroquial encheram, na sexta-feira passada, o Santuário Nacional Nossa Senhora Auxiliadora para celebrar a Eucaristia por sua intenção. S. João Bosco assegurava os seus rapazes: “Rezai a Maria Auxiliadora e vereis o que são milagres”, e por isso, o senhor padre Taveira rezou a missa festiva de Nossa Senhora Auxiliadora. Nas leituras, o episódio das Bodas de Caná encheu-nos de confiança.

Enquanto aguardamos notícias, que tardam em chegar, todos os que a amamos nos temos certamente confrontado com o mistério da vida e da morte. De facto, a vida é tão, mas tão frágil! Num momento estamos vivos, no momento seguinte, e sem aviso, podemos não estar. Que fazer perante esta constatação? Desesperar? Mas se a morte é a passagem para a Vida?!

Um destes dias, um sacerdote amigo partilhou a sua resposta às duas perguntas de Deus a Adão e Eva:

Onde estás? (Gen 3, 9)

“Na vontade de Deus!”

Que fizeste? (Gen 3, 13)

“A vontade de Deus!”

Serão estas as respostas que cada um de nós dará ao Senhor, se Ele nos chamar esta noite? Se não são, apressemo-nos a procurar o sacramento da Confissão e a converter a nossa vida, tanto quanto o exigir o cumprimento da vontade de Deus, custe o que custar. Então nada temos a temer quando a nossa hora chegar – e pode chegar ainda hoje.

A Vera está ali, entre a vida e a morte, suspensa na vontade de Deus. Supliquemos ao Senhor, com toda a nossa fé, que a deixe viver entre nós mais uns tempos. Rezem connosco! Rezem pela sua família a sofrer, o seu marido e os seus três filhos e nora. Deus gosta que peçamos uns pelos outros, que nos importemos uns com os outros, que soframos uns com os outros, porque ninguém ama de outra forma. Mas supliquemos-Lhe sobretudo, para ela e para nós, que nos ensine a cumprir a sua vontade, sempre e em toda a parte.

Porque quando fazemos a vontade de Deus, não desesperamos, não nos revoltamos, não fazemos demasiadas perguntas.

Quando fazemos a vontade de Deus, não importa se temos saúde ou estamos doentes, se somos ricos ou pobres, se temos vida longa ou vida curta, se temos trabalho ou estamos desempregados, se vivemos ou morremos.

Quando fazemos a vontade de Deus, mergulhamos no mistério. E tudo fica bem.

Mais fácil falar do que viver, não é verdade? Por isso rezamos:

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte! Ámen.