Em Caná da Galileia...


O tempo que Deus acrescenta

As Famílias de Caná são muito diferentes entre si. Temos famílias mais ricas e famílias mais pobres, famílias com mais ou menos estudos, famílias educadas na fé católica desde sempre e famílias convertidas recentemente, famílias com uma vivência mais carismática e famílias com uma vivência mais tradicional, famílias da cidade e famílias do campo, famílias com muitos filhos e famílias sem filhos. Mas… O que terão todas estas famílias em comum? Parece-me que o mais importante se diz numa palavra: tempo.

As Famílias de Caná têm tempo para viver em família, e têm tempo para, em família, falar com Deus.

É engraçado ver as voltas que as Famílias de Caná dão para encontrar este Tempo de Deus e este Tempo de Família. Algumas, como nós, fazem-no a partir da hora do jantar. Cá em casa, jantamos geralmente todos juntos, sem televisão nem telemóveis. Depois, enquanto uns arrumam a cozinha, outros lêem, ouvem histórias ou tocam guitarra: são mais dez minutos, um pouco confusos, de família reunida. Às vezes há tempo para um jogo divertido, geralmente sugerido pelos mais pequeninos, mas que nos envolve a todos e nos faz rir a valer, seja “o lencinho”, seja um jogo de mímica, seja o “jogo das cores”. De novo, são apenas dez minutos, mas dez minutos de muitas gargalhadas! De vez em quando, reparamos no esforço maior que um dos mais velhos faz para brincar com os mais novos, ensinando a jogar xadrez ou a dançar um passo diferente. Finalmente, fazemos a nossa oração familiar, durante cerca de meia-hora.

Para algumas famílias, o Tempo de Família por excelência é simplesmente a hora do pequeno-almoço; para outras, as longas viagens de carro entre a casa e a escola ou o trabalho. Há famílias que dividem a oração familiar em duas partes, uma no carro, outra em casa. Há famílias em que apenas a mãe ou o pai reza o terço completo, partilhando com a família simplesmente um mistério, ao fim do dia.

O importante, para nós, é encontrarmos durante as vinte e quatro horas do dia alguns minutos para reunir a família, rir um bocadinho, conversar um bocadinho, brincar um bocadinho, e finalmente, rezar um bocadinho.

Mas onde vamos nós buscar o tempo que falta a todos? Bem, nós temos um segredo. Um segredo com dois mil e dezassete anos, afinal. Está bem guardado no Evangelho:

Procurai primeiro o Reino dos Céus, e tudo o resto vos será acrescentado. (Mt 6, 33)

É simples: em vez de procurar dar a Deus os minutos que nos sobram de tudo o resto, nós damos-Lhe o primeiro lugar. Não perguntamos: “Como é que vou arranjar tempo para rezar com a minha família?” Porque este tempo, nós temos. Podemos é não ter tempo para outras coisas.

O resultado é esta bênção divina que acompanha as suas promessas e nunca, nunca falha. A mesma bênção que permitiu, em Caná, a transformação da água em vinho abundante. É que dando a Deus o primeiro lugar, tudo nos é acrescentado.

Quando, em conversa com amigos, ou depois de um retiro ou encontro, escuto alguém dizer: “Lamento imenso, mas não tenho mesmo tempo para rezar com a minha família, nem é possível, para nós, jantar com a televisão desligada”, eu sei que não estou diante de uma Família de Caná. Graças a Deus, há muitos caminhos para chegar ao Céu, e quantas pessoas conheço que chegarão lá antes de mim, mesmo sem rezar em família!

Mas quando escuto alguém dizer, depois de um encontro, um retiro, a leitura do meu livro ou de um post do blog ou deste site: “Tempo para rezar? Tempo para brincar com os meus filhos? Que giro! Vou começar a fazer isso hoje mesmo, embora não faça a menor ideia de como vou conseguir.” Então eu sei que estou diante de uma Família de Caná.

Hoje, ao preparar as minhas aulas, encontrei no meu manual de Inglês do oitavo ano, em que abordamos o tema dos meios de comunicação social, a seguinte afirmação, que aqui traduzo:

Sabias? O americano médio vê mais de quatro horas de TV por dia. Numa vida de sessenta e cinco anos, essa pessoa terá passado nove anos da sua vida a ver televisão.

 

E se, em vez de “o americano médio”, quisermos saber sobre o uso do tempo de “o cristão médio”? Quando, no fim da vida, formos julgados pela forma como usámos o tempo que Deus nos deu, que descobertas faremos? Quantos anos da nossa vida teremos realmente passado a rezar ou a disfrutar da família que o Senhor nos confiou? Somado em anos, que tempo da nossa vida terá realmente ocupado o primeiro lugar?

Em breve teremos a belíssima celebração dos primeiros compromissos das Famílias de Caná. Já se inscreveram para fazer o vosso compromisso? O Senhor continua a aguardar as respostas de algumas famílias… Teremos Tempo para Lhe dar?

O amor precisa de tempo disponível e gratuito, colocando outras coisas em segundo lugar. (Amoris Laetitia, nº 224)

4 Comments

  1. Nos dias de hoje vivemos assoberbados com formas de preencher o tempo, os nosso miúdos estão inscritos em atividades várias…parece que não podem estar simplesmente sem nada para fazer, aprender a estar consigo mesmos…
    os filhos vão lembrar-nos ( eu acredito nisso) pelo tempo que passamos com eles, a rezar, a brincar ou simplesmente estar..

  2. Olá Teresa.
    E todos concordamos, que o melhor tempo é o que passamos com o Senhor…

    É muito bom ver como crescem as vossas obras.

    Abraços

  3. Como disseste na RR outro dia: “Tempo de Deus, tempo de família”. Parece ser um bom lema?

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