Na semana passada, recebemos no site um comentário a que respondi de imediato, mas que pela sua importância, decidi transformar em post. Vamos lá:
Viva Teresa
Ao ler estes textos sobre o carisma das Famílias de Caná surgiu-me uma dúvida. Se por hipótese algum dos vossos filhos manifestasse vontade de participar num movimento da paróquia de âmbito extra paroquial (conferencias de S. Vicente Paulo, Equipa de jovens de Nossa Senhora, Escuteiros ou outro) não o podiam deixar ir?
Viva, Cristina!
Os nossos filhos participam em várias coisas para lá da paróquia, como por exemplo nas atividades salesianas do MJS, em retiros e encontros que vão sendo propostos pelas Irmãs de S. José de Cluny, do seu antigo colégio, e noutros encontros variados. Procuro estar muito atenta a todas as oportunidades que vão surgindo, para lhas oferecer. Algumas, eles aceitam, outras não. São sempre livres de aceitar ou recusar.
Enquanto crianças e adolescentes, queremos que tenham experiências variadas, que participem de várias coisas, consoante vão sentindo vontade. Mas nada que envolva um compromisso ou uma caminhada contínua. Isso, eles recebem do nosso Movimento, e chega muito bem! O nosso carisma defende que, durante a infância e a adolescência, a educação na fé se faz sobretudo em família, e não é próprio de uma Família de Caná inserir os filhos num outro Movimento através de um compromisso particular, ou de uma caminhada muito específica. (Convém distinguir entre Movimento e associação de fiéis, confraria ou outras formas mais leves de compromisso cristão, como diferentes oportunidades de apostolado, que naturalmente estão sempre disponíveis para todos.)

À medida que vão saindo da adolescência e entrando na juventude, os “filhos de Caná” têm total liberdade para fazer as suas escolhas de adultos. O nosso compromisso familiar só pode, pela própria natureza do que é uma família, vincular a família enquanto ela vive sob o mesmo teto, isto é, enquanto os pais têm a função de educadores.
Como as famílias do Antigo Testamento, bem representadas por Josué, e as famílias do Novo Testamento, que os Atos nos apresentam, também as Famílias de Caná respondem em coro, pela voz do pai e da mãe, neste Movimento por eles escolhido:
Eu e a minha família serviremos o Senhor! (Js 24, 15)
E é precisamente por causa desta unidade de voz, de carne, de coração, de alma que caracteriza a essência da família, que eu não consigo entender que o pai possa pertencer a um Movimento, a mãe a outro, os filhos a outro. A meu ver, é uma consequência natural do matrimónio a desvinculação a qualquer pertença ou compromisso, no momento em que dois se tornam um, um em tudo, mesmo na forma de viver a fé. O sacramento do matrimónio tem de ser – é – mais forte que qualquer pertença a um Movimento, e é preciso que a Igreja lhe reconheça o poder de desvincular os cônjuges de tudo o que possa separar, porque a espiritualidade também pode separar. Para quando, este entendimento?
Coerente com esta linha de pensamento, quando os filhos crescem, é preciso que “deixem pai e mãe”, como diz a Escritura. Este “deixar” inclui a casa paterna (muito importante!) e tudo o que eles quiserem incluir. É preciso deixar, isto é, distanciar-se o suficiente do que foi recebido, para então, se assim decidirem, o acolherem de novo e o assumirem e reescreverem como próprio. Se receberem o sacramento do matrimónio, este “deixar” e este “comprometer-se” terão de ser feitos em casal, como um só, com total liberdade de espírito, sem gerar qualquer mal-estar nas suas famílias de origem.
Ou seja, se os nossos filhos, como adultos, quiserem continuar a ser Família de Caná, terão de fazer o seu compromisso, como qualquer outra pessoa / família, agora de uma forma nova, própria, totalmente assumida. Podemos comparar à relação entre o batismo recebido em criança, e o crisma assumido quando jovem adulto.
Se quiserem mudar de movimento, ou até de religião, se quiserem abandonar tudo o que receberam em criança e construir sobre outro alicerce, são totalmente livres para o fazer, e nós cá continuamos como pais para os acolher e amar sempre, sem condições; mas também sem a obrigação de, na nossa própria casa, aceitarmos qualquer coisa!
Se, como nós rezamos e sonhamos, quiserem pegar no nosso Movimento, o Movimento que eles ajudaram a fundar e, em total sintonia com os seus cônjuges, o levarem aos quatro cantos do mundo, especialmente ao cantinho aonde viverem, para aí o semear e fazer frutificar… Bem, se isso acontecer, acho que rebentaremos de felicidade…
