O Tempo de Natal já lá vai. Ainda falta mais algum tempo para a Quaresma, a Páscoa e o Tempo Pascal. Entre uma coisa e outra, vamos vivendo no Tempo Comum, e ontem foi o seu Domingo Terceiro.
Cá em casa, as crises agudas que acompanharam o Tempo de Natal estão também a chegar ao fim, cicatrizando lenta mas seguramente. As covas no jardim já foram tapadas, as obras em casa terminaram ontem, e eu já saí da cama e do sofá. Pouco a pouco, a vida regressa ao ritmo normal.
É o Tempo Comum da vida, o Tempo Comum da Igreja. E o mais curioso é que a maior parte das nossas vidas, da nossa História e da nossa fé se joga aqui, no Tempo Comum, aqui, na rotina de cada dia, na rotina de cada matrimónio, na rotina de cada família.
Vivemos numa época que não suporta a rotina. Tudo tem de ser novidade para ser atraente, incluindo os relacionamentos profundos. O Papa Francisco fala em “sociedade descartável”, “sociedade de descartados” e outros termos semelhantes, que remetem para a facilidade com que procuramos novidade e fugimos da rotina, especialmente da rotina dolorosa de muitos que têm a seu cargo idosos para cuidar ou pessoas com deficiências, e a rotina difícil da maternidade e da paternidade nos seus anos mais conturbados.
E no entanto, é na rotina do nosso “Tempo Comum” que se joga a vida. É aqui e agora que nos é pedida a fé, a esperança e a caridade até ao heroísmo. Nas pequenas coisas. Nos pequenos sacrifícios e nos pequenos gestos feitos com um sorriso na cara e muita ternura. No beijo antes de adormecer, no perdão pedido e oferecido, na história lida ao serão mesmo quando o trabalho se amontoa, na missa onde chegamos a horas, na oração que não se encurta, no trabalho que se faz com perfeição mesmo que ninguém nos agradeça ou elogie, no grito que calamos, na ajuda que prestamos, na murmuração que evitamos, na simpatia que espalhamos. Aqui e agora, no nosso Tempo Comum.
Quando chegarem os “tempos litúrgicos fortes” da vida, Deus não nos faltará com a sua graça. De nada nos adianta imaginar cenários, porque Ele é especialista em nos trocar as voltas. Jesus deixou-nos o segredo:
Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá as suas próprias dificuldades. A cada dia basta o seu cuidado. (Mt 6, 34)
Tempo Comum. O Tempo Comum de Maria, nossa Mãe, entre Belém e o Calvário. O Tempo Comum de José, seu esposo, na oficina de Nazaré, cuidando do Salvador e de sua Mãe. O Tempo Comum de Jesus, que durante trinta anos o elegeu como lugar de encontro com Deus.
O nosso Tempo Comum, entre a Belém dos nossos nascimentos e o Calvário das nossas mortes, enquanto aguardamos a Páscoa da nossa ressurreição. O Tempo Comum da nossa Salvação.
Aqui. Agora. Nós, Jesus…
Só tu conseguirias agarrar nas leituras do Tempo Comum e fazeres delas este texto maravilhoso!
Um beijinho muito grande para toda a família Power.